segunda-feira, 25 de março de 2013

A CONTRAOFENSIVA DE LULA



Depois de passar todo o ano de 2012 sob intenso cerco da aliança entre a grande mídia e setores do judiciário, os movimentos de Luiz Inácio Lula da Silva permitem dizer que o companheiro realiza uma bem afinada contraofensiva.

Dizer que o ex-presidente Lula é o maior líder popular da história do Brasil, o melhor presidente de todos os tempos ou mesmo o maior político brasileiro da atualidade, já virou lugar comum entre militantes de esquerda, petistas e lulistas.
É difícil falar das últimas movimentações políticas deste gigante sem estabelecer estas referências, que demonstram a capacidade de um personagem cuja trajetória materializa o papel que certos indivíduos podem exercer na história coletiva dos povos.

Lula termina 2012, curado de um câncer, parcialmente vitorioso nas eleições, acusado por Marcos Valério e cercado pela aliança da mídia com setores do judiciário. A mesma aliança que criminalizou e destruiu as vidas de companheiros históricos de caminhadas. Mesmo assim, o ex-presidente parece que entrou em 2013 demonstrando fôlego renovado para as novas batalhas.

Em fevereiro, no ato de comemoração dos 33 anos do PT e 10 anos de governo federal, reafirmou a condição da presidenta Dilma como candidata à reeleição. Isso foi o suficiente para a gritaria de sempre, acusá-lo de antecipar a campanha eleitoral. O problema real é que as vozes do atraso subestimam a presidenta Dilma, desde que a mesma foi anunciada como candidata à sucessão em 2010.

Não contavam com a sua eleição, seu sucesso e ainda acalentavam a vã ilusão de sua não candidatura em 2014. A possível reeleição de Dilma abrirá no Brasil outro ciclo político de possibilidades de renovação do poder em todos os entes da Federação. Podendo, inclusive, entre as possibilidades, deparar com o próprio Lula em 2018.

Ainda no ato chamou a comparação de projetos e governos, o “decênio que mudou o Brasil” contra a década neoliberal, insistindo, inclusive, em fazer o debate sobre o combate à corrupção. Discorreu sobre o fortalecimento da Polícia Federal, da criação do portal da transparência, da Controladoria Geral da União, do afastamento e prisões de servidores envolvidos em processos contra o erário público. Disse que quer fazer todos os debates, inclusive esse.

Além da disputa externa, o companheiro Lula não se esqueceu de fazer a disputa interna. Em tempos de PED e período pré-congressual, fez a defesa da política de alianças amplas, da carta aos brasileiros, da política econômica, da escolha de Dilma para sucedê-lo, da mudança de perfil e da forma do PT se apresentar.

No dia 30 de março, em Fortaleza, no Ceará, não foi diferente. No primeiro seminário do Decênio que mudou o Brasil, aprofundou o debate de projetos, reconheceu os limites do governo e a necessidade de ampliar as políticas públicas para atender as necessidades da classe trabalhadora incorporada ao novo mercado de trabalho.

Na mesa PT, PMDB, PSB e outros partidos aliados. Por conta das contendas locais, governador do Ceará, ganhou uma generosa vaia. Lula ao discursar afirmou que antigamente as diferenças na política eram resolvidas na violência, que as vaias e aplausos são inerentes a da democracia, um dos grandes legados do PT para o Brasil.

No dia seguinte, Lula fez a análise de conjuntura na reunião do Diretório Nacional do PT. Primeiro uma boa constatação, está se dedicando a aprender mais, citou a Revolução Bolchevique e sua importância para o surgimento do Estado de Bem-Estar social na Europa, falou da situação dos partidos da social democracia europeia, citou a biografia de Lincoln e discorreu tranquilamente sobre diversos dados comparativos da evolução econômica e social do Brasil nos últimos anos.

Como era de se esperar, sua fala teve um caráter orientador que pautou toda a reunião do Diretório. Apresentou ao PT as seguintes tarefas: Fazer a comparação de projetos, lutar pela reforma política com financiamento público exclusivo de campanha, lutar pela regulamentação dos meios de comunicação, criar uma frente de mídia nas redes sociais e organizar a política de alianças nos estados de forma que ajude na reeleição, com atenção especial para a Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo e Paraná.

Destes pontos cabe destacar o senso de realismo expressado na constatação de que o atual sistema político impede a continuidade dos avanços do nosso governo. Que este sistema é um empecilho para a formação de novas lideranças e para a saudável renovação da política.

Ao conclamar o PT para engajar-se com mais força na luta pela reforma política, Lula afirmou saber que o senso comum é contra vários itens de conteúdo democrático e popular que estão contidos na proposta defendida pelo PT.

O líder afirmou que foi convencendo o povo de questões, as quais a maioria da população era contrária, que o PT afirmou e consolidou seu caráter dirigente e de classe. Tarefa dada e o Diretório Nacional do PT aprovou uma campanha nacional para apresentar um projeto de lei de iniciativa popular para a convocação de uma constituinte exclusiva para debater a reforma política. Nesta proposta, o PT defenderá o financiamento público exclusivo de campanha e a lista fechada alternada com paridade entre mulheres e homens.


“É chegada a hora do PT governar São Paulo”


 Foi com essa frase que Lula apareceu no dia 13 de março como ancora das inserções do PT de São Paulo na TV. Continuando ainda de forma emblemática disse que “o projeto do PT não se esgota”.  Depois de abrir o debate da reeleição de Dilma, colocou o PT na dianteira também no debate da sucessão para o governo de São Paulo.

Dada à dimensão de sua liderança, o fato de chamar o debate sucessório no plano nacional e estadual é considerado por si só o começo antecipado do processo eleitoral. O comportamento da mídia ajuda a fortalecer esta impressão, mas o fato é que uma fala de Lula já significa uma orientação, um start, um fato político em si.

As primeiras pesquisas de opinião com vistas às eleições presidenciais apontam uma dianteira folgada de Dilma, enquanto isso, as hostes oposicionistas e possíveis adversários encontram-se divididos, desalinhados e sem projetos de futuro para apresentarem ao país.

Gozando de boa saúde, Lula esteve, neste sábado, dia 23 de março, em Barretos, interior de São Paulo, para participar da inauguração das novas alas do Hospital InfantoJunvenil Luiz Inácio Lula da Silva, especializado em tratamento de crianças com câncer,  cujo atendimento é 100% realizado pelo SUS. Ele saiu de lá “mais orgulhoso de ser brasileiro”.

O intenso ritmo de atividades e articulações revela um militante incansável de batalhar, um animal político com o olhar voltado para o futuro. Talvez por isso, na última semana tenha sido iniciado, ainda que de forma tímida, uma boataria sobre uma suposta descoberta de um novo câncer no ex-presidente. Parece que na falta de elementos mais concretos para fazer política, parte da oposição apela para o mau agouro.

Nos próximos meses, o PT fará 12 seminários como os do Ceará. Lula comprometeu-se em participar de todos, obviamente a sua participação não se resumirá a fazer palestras. Estaremos aqui atentos para as próximas movimentações deste, cujo nome basta ser pronunciado na tonalidade certa em uma boa plenária para arrancar aplausos de uma classe envaidecida.


Ademário Costa,

direto da cidade do Salvador

domingo, 24 de março de 2013

O VERDADEIRO PARTIDO DA DIREITA BRASILEIRA


Por Ademário Sousa Costa*

“O que é ruim a gente esconde o que é bom à gente fatura”. Rubens Ricupero, então ministro da economia, em 1994, referindo-se ao tratamento que o governo federal e a imprensa brasileira davam ao “Plano Real”, garoto propaganda, que ajudou sobremaneira na primeira eleição de FHC. Sem saber que o sinal de TV estava aberto, Ricupero acabou proferindo uma frase que estampa as relações que o cartel da mídia estabeleceu historicamente com a política Brasileira.

As relações entre a burguesia e os meios de comunicação estão expressas nesta equação de forma que, invariavelmente o que é bom para o cartel é ruim para o povo, e o que é bom para o povo é ruim para o cartel. Aqui, cartel, refere-se ao fato de que apenas 11 famílias controlam a maior parte da informação veiculada por meio televiso, radiofônico ou impresso. Esta concentração não representa a pluralidade de ideias e opiniões que existe na sociedade brasileira e está na contramão dos anseios democráticos que esta mesma impressa finge defender.

Não há liberdade de imprensa, nem liberdade de opinião, não há liberdade alguma, quando apenas o pequeno núcleo de uma classe pode decidir o que é melhor para que outras centenas de milhões vejam, ouçam e leiam. A participação da imprensa nas eleições 2012 foi mais um capítulo desta triste novela, protagonizada pelo baronato da mídia.

O imenso complexo privado de telecomunicações no Brasil começou a tomar forma sobre os auspícios da ditadura militar. Ao longo dos anos a relação da mídia com o PT foi sendo transformada. No período da redemocratização apresentou o PT como o “Perigo Comunista”, ateus que queriam tomar as casas, as economias e os bens dos brasileiros. Curioso é que, quem confiscou a poupança do povo foi o então presidente Fernando Collor, eleito com uma mãozinha da rede Globo.

Em um segundo momento quando a atuação nos movimentos sociais, a ação diferenciada no parlamento e as boas experiências de gestão do modo petista de governar, transformaram o PT, no partido preferido da classe trabalhadora, levando o partido à presidência da Republica, o cartel mudou de tática procurou demonstrar que o PT era um partido igual aos outros, com os mesmos males e as mesmas práticas, que o partido sempre condenou.

Mas uma vez, não adiantou. O PT não só reelegeu o presidente Lula, como também elegeu Dilma Roussef, a Primeira mulher presidenta do Brasil. Agora estamos em uma terceira fase desta relação. Desesperado com os constantes fracassos eleitorais de seus partidos o setor da Burguesia que controla a mídia tomou para si a tarefa de exercer ela mesma o papel de partido de oposição.

E sem floreios, rodeios ou rapapés, passou a investigar, fiscalizar, denunciar, julgar, sentenciar e prender. Fazendo com as próprias mãos a justiça que o povo não referenda nas urnas. Nesta fase o PT não é mais apresentado como o perigo vermelho, nem como um partido igual aos outros, o PT, segundo o cartel, é o partido “mais corrupto do Brasil” protagonista do “maior escândalo da história”, agora o PT é pior que os outros.

Nas eleições 2012, o julgamento da ação penal 470 (mensalão) foi explorado pela cobertura da imprensa, ao ponto de enodar o debate político, ao invés de cumprir sua função social facilitando o livre debate de idéias, suprimiu das eleições a própria política, obliterando o verdadeiro debate que deveria pautar as eleições municipais. A saber: a questão dos modelos de desenvolvimento das cidades e os diferentes projetos em curso.

Um vazio monocórdio tomou conta de todos os noticiários, cujo efeito mais latente foi semear a desesperança e incentivar o afastamento de amplas massas do processo eleitoral. Efeito colateral do alto grau de despolitização sugestionado e operacionalizado pela grande mídia. Este setor prestou um desserviço ao país, mas uma vez contribuindo para afastar a população da política, dos políticos e dos partidos. Não foi a toa o aumento da abstenção, nulos e brancos registrado nestas eleições em todo Brasil.

Ao mesmo tempo em que usufruem da cartelização do sistema de comunicações, os barões da mídia rejeitam qualquer proposta de controle social dos meios. Utilizam-se do aparato montado à custa dos brasileiros, para tachar como censura, ameaça à democracia, ou imposição do governo, qualquer proposta de democratização do direito a comunicação. Agindo sempre no sentido de preservar o monopólio de que dispõe.

Infelizmente a politica de distribuição de verbas publicitárias do governo Federal age no sentido de reforçar este quadro de concentração de poder, 70% da verba disponível para a publicidade vão parar não mãos dos dez (10) maiores veículos de comunicação, todos de oposição ao projeto do PT.

Segundo a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, só a Globo recebeu mais de 50 milhões de um total de 161 milhões repassados pelo atual governo até setembro de 2012. Enquanto existem 20.000, pedidos de autorização de rádios comunitárias em tramitação, 7.559 pedidos arquivados, 3.536 pedidos negados e apenas 3.652 pedidos atendidos em dez anos. Nos últimos cinco anos 6.716 rádios foram fechados pela ANATEL e Policia Federal.

Este quadro, revelador de dificuldades para a organização comunitária e a concentração na distribuição de verbas publicas, só reforça a monopólio em forma de cartel, alimentando o maior partido de oposição do país ao mesmo tempo em que são reprimidos os movimentos e as organizações comunitárias por tentaram democratizar o direito a comunicação.

Cabe ao PT defender e lutar pela democratização e pelo direito à comunicação, fortalecer a defesa do controle social da mídia como previsto no plano nacional de direitos humanos, implementar a democratização da distribuição das verbas publicitárias onde é governo e constituir uma imprensa e meios de comunicação sobre controle dos trabalhadores(as) e das forças sociais do projeto democrático e popular.

*Membro do Diretório Estadual do PT da Bahia.